sábado, 7 de setembro de 2013

OUTROS GRITOS DE SETEMBRO

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Ouvi, sim. Pelo que percebi, era de desespero. Um grito de alguém à margem. Não duvido que tenha vindo da garganta de um povo procurando heróis. Vidas sem holofote e sem lanterna que não ganham nota no jornal. Que não embrulham nem o quilo do frango no açougue mais próximo.
Além de ouvir, eu vi. Vi quem não tinha liberdade – nem sol na alma – se entregando por qualquer migalha de felicidade. A qualquer hora. A qualquer instante. Doeu perceber, mas eu vi gente que cansou e não tem mais força para olhar em direção ao céu, aos sonhos.
E, exercitando olhar para os lados, tive que aceitar uma dura verdade: não existe igualdade quando ainda há quem morra de diarréia por insuficiência estatal. Não existe igualdade quando guerreiros de braços fortíssimos padecem na burocracia das filas de hospital. Trabalhadores que aceitariam médicos feitos de carne e osso; independente de onde o osso, a carne e o charuto foram importados. Nem todo peito que desafia a própria morte, vence, principalmente em leito do SUS.
Pátria? Amada? Por quê? Amada pra quê? Quem precisa de amor é gente, não porção de terra. Acasos geográficos gerando idolatria? Aqui, não.
Sonhos tensos permeiam a mente de muitos nascidos no Brasil: Alguns procuram amor; alguns, esperança; outros ainda procuram comer, tomar banho com dignidade e, se der, dormir numa cama com cheiro de lençol recém lavado.
Não há céu límpido nesse fatídico 7 de setembro de 2013. Tudo está nublado. Está sem direção o país que não sabe se faz marketing ou revolução. Se joga bola ou a toalha. Mas de uma coisa todos sabem: cédulas com cheiro de cueca farão resplandecer uma linda Copa do Mundo. Evento organizado especialmente para o maior show de desvios e discursos patriotas de toda nossa história. Se falador realmente passa mal, o Brasil já está de velório marcado. Um gigante que não acordou de nada. Está dando um rolê na rua asfaltada beijando bandeira e esquecendo porque ela é mais verde do que amarela. Um gigante que, depois de papar um temaki, foi beijar lycra chinesa e deixou o índio se fuder sozinho no Maracanã.
Que o adorar seja cem vezes refletido. Que saibamos: entre outras mil, temos um Brasil em 85º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano. Que não seja esquecido: filhos estão sendo monitorados, agredidos e presos por autoridades militares nada gentis. O crime? Se revoltarem com o cheiro de chorume originado e emanado na Praça dos Três Poderes.
A real é que não sou filho de solo algum. Quem me pariu tem sangue correndo nas veias; a chamo de mãe. Não me importo com o endereço que ela escolheu para tal feito. Mero acaso. Que um dia tenhamos apenas o orgulho de sermos bons, honestos, inteligentes ou justos, não de onde nosso alfinete é fixado naquele globo; o tal do mapa-múndi.
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Texto por Fábio Chap

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